A angústia nossa de cada dia
A angústia nossa de cada dia
Pedro Virgínio P.
Neto
A doutora em psicologia,
Fernanda Pacheco Ferreira, ao discorrer sobre as facetas do sofrimento
psíquico, no contexto contemporâneo, ressalta a rapidez com que termos, outrora
de uso restrito ao universo da psiquiatria e da psicologia, hoje invadem nosso
cotidiano. De modo que as pessoas não sentem mais tristeza, estão
"depressivas". Não carecem de autodomínio, são "bipolares".
Evidentemente, tais patologias são uma realidade e devem ser tratadas com a
devida atenção.
Contudo, a "medicalização
e a patologização do comportamento normal" também parecem ser tendências
atuais, na perspectiva de autoridades no assunto. Não é nem mesmo preciso ser
Psicólogo para perceber tal tendência. Basta ser um bom observador.
Em uma interessante elaboração,
a psicóloga acima mencionada, contrapõe a causa do adoecimento psíquico apontada por
Freud, no seu tempo, e a possível causa predominante no momento atual.
Para Freud a causa do
adoecimento psíquico estaria no RECALQUE dos impulsos violentos e sexuais que
todos carregamos, o que geraria um sentimento de culpa. No momento atual, em um
contexto muito mais liberal, em relação ao conservadorismo dominante na época de
Freud, a causa não estaria no recalque dos impulsos ou desejos, mas na vergonha
sentida pelo sujeito, por não alcançar o IDEAL posto diante dele.
Na sociedade em que vivemos,
fundamentada sobre a imagem e o marketing, não basta possuir uma casa, um carro
ou uma relação amorosa. É preciso que essa casa, esse carro e essa relação
amorosa, estejam compatíveis com os modelos ideais elaborados, sobretudo, pelos
veículos publicitários.
Ainda, mais uma causa poderia
ser acrescentada: A capacidade cada vez menor de absorver e ressignificar as
frustrações da vida. Toda a existência humana é perpassada pela frustração. O
próprio processo educativo envolve frustração. Enfrentar barreiras e ver nossos
desejos frustrados, certamente não é agradável. Mas a construção da
personalidade e do caráter, necessariamente, passa por isto. Saber aceitar os
limites da vida é, pois, fundamental, para que tenhamos saúde.
Paradoxalmente, no momento de maior fartura material e de maior liberdade comportamental que a sociedade ocidental já viveu, a angústia torna-se uma presença perene a nos acompanhar.
Paradoxalmente, no momento de maior fartura material e de maior liberdade comportamental que a sociedade ocidental já viveu, a angústia torna-se uma presença perene a nos acompanhar.
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